sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Nem sempre é Bullying

Será brincadeira ou agressão? Superproteção ou violência real?

Isabela Frushio

Na manhã da quinta-feira, 7 de abril de 2011, um homem de 23 anos entrou em uma escola do Rio de Janeiro e atirou em alunos que assistiam à aula. Policiais chegaram ao local, um deles feriu o atirador que se suicidou logo em seguida. Wellington Menezes de Oliveira foi  ex-aluno da Escola Municipal Tasso da Silveira, no bairro de Realengo, onde ocorreu o atentado. Wellington deixou um total de 12 mortos e outros 12 feridos.
Colegas de trabalho e vizinhos foram entrevistados inúmeras vezes e sempre diziam que Wellington era um jovem calado e solitário. Bruno Linhares, 23, ex-colega de escola do atirador, logo depois do ocorrido, afirmou que Wellington era motivo de piada entre os alunos, por sua personalidade introspectiva e pelo fato de mancar com uma perna. Durante as investigações, foram encontradas cartas e vários vídeos no computador de Wellington: “A luta pela qual muitos irmãos no passado morreram e eu morrerei não é exclusivamente pelo que é conhecido como bullying. A nossa luta é contra pessoas cruéis, covardes, que se aproveitam da bondade, da inocência, da fraqueza de pessoas incapazes de se defenderem”, disse em uma das gravações.
O caso de Realengo, como ficou conhecido o episódio no Rio de Janeiro, nos remonta a outros casos semelhantes. No ano de 1999, a cidade de Littleton no Colorado assistiu a uma das cenas mais assustadoras dos Estados Unidos. Dois alunos, Eric Harris e Dylan Klebold, atiraram contra os colegas de escola, contra o professor e em seguida cometeram suicídio. No total, 15 pessoas morreram e outras 23 ficaram feridas. O psiquiatra americano Timothy Brewerton tratou alguns alunos que foram vítimas dos atiradores e, em maio, ele apresentou no Rio de Janeiro um estudo do Serviço Secreto sobre atentados em escolas do mundo todo. Ele concluiu que de 66 ataques ocorridos de 1966 a 2011, 87% deles foram promovidos por alunos que sofriam bullying e desejavam vingança. 
O Bullying é caracterizado como um comportamento agressivo físico ou psicológico intencional do agressor, denominado bully. As agressões são motivadas por disputas de poder e esse desequilíbrio pode ser motivado pela aparência física, diferença de idade ou de classe social, entre outros motivos. Apelidar, fazer piada, o que há alguns anos era visto como uma brincadeira, hoje pode ser diagnosticado como bullying. “Quanto mais agressiva for a ‘brincadeira’, quanto mais tempo ela durar e frequente for, piores as possíveis sequelas psicológicas”, explica a psicóloga Karolini Rossini. 
A criança que sofre bullying apresenta alterações em seu comportamento, torna-se agressiva, irrita-se com facilidade, apresenta queda no rendimento escolar, adoece e  perde o ânimo. O grupo isola, agride e humilha um indivíduo mais fraco para se exibir e mostrar que tem poder. Outras vezes, um indivíduo faz de tudo para se inserir em um grupo, procura se vestir da mesma forma ou se interessar pelas mesmas bandas, mas o grupo utiliza esse desejo do indivíduo de se integrar para fazer piada ou exigir favores. Casos assim já foram retratados nas telas do cinema, como é o caso da série “Gossip Girl” , que também mostra o esforço da jovem Jenny (Taylor Momsen) para se aproximar da garota mais popular do colégio. Ela faz favores, é humilhada e obedece a tudo o que Blair (Leighton Meester) lhe impõe, mas tudo é em vão. “Meninas Malvadas”, o longa é protagonizado por Cady (Lindsay Lohan), que começa a estudar em uma nova cidade, lá encontra o grupo mais popular de meninas e faz de tudo para se tornar parte dele. Uma professora do colégio percebe que as notas de Cady estão baixas e uma mudança brusca em seu comportamento e procura ajudá-la. Na vida real, a ajuda de educadores também é fundamental para auxiliar crianças e jovens que enfrentam situação semelhante. A coordenadora pedagógica Anne Kariny Lemos Rocha já notou comportamento semelhante entre os alunos da escola estadual Rubens Pietrarróia, de Lençóis Paulista - SP, onde trabalha: “você acompanha  o aluno há anos e percebe quando ele está diferente, conversamos com ele, ele conta o que fez achando que será aceito, parece que ele implora por isso”. Anne também ressaltou que o bullying que mais preocupa é aquele cometido entre os bons alunos, os considerados nerds, os demais enxergam o fato de alguns alunos terem notas mais altas como um defeito e fazem disso um motivo para isolá-los.
Por outro lado, há os psicólogos e educadores que acreditam que há um exagero ao se considerar certos comportamentos como bullying. Eles afirmam que, muitas vezes, crianças colocam apelidos ou fazem piadas das outras, mas tudo não passa de uma brincadeira.  O comerciante Felipe Tosi, 21, foi uma criança gordinha. Por volta dos 10 anos de idade, iniciou um tratamento para a redução de peso, com o apoio de uma nutricionista e prática de exercícios físicos. O fato de estar bem acima do peso nunca foi problema em seu relacionamento com outras crianças: “as pessoas brincavam, mas nada de mais”. Mesmo sem ter sofrido bullying, contou com o apoio de uma psicóloga no período de reeducação alimentar. Anne procura sempre conversar com seus alunos, eles fazem uma roda de discussão em que são apontados os problemas de relacionamento na escola, eles relatam à educadora as brincadeiras que os colegas fazem, os adolescentes, principalmente, não levam a sério: ”eles colocam apelidos nos colegas, muitas vezes eles não ligam mesmo. Acho que bullying é aquilo que incomoda, que deixa a pessoa triste, que você percebe que a afeta de algum jeito”. A educadora acredita que alguns fatos e o modo com que são relatados fazem com que as pessoas confundam o conceito de bullying: “eu acho que é algo que sempre existiu, mas agora, como está sendo muito divulgado na mídia, todo mundo presta mais atenção”, observa. 
Os pais e professores devem ficar atentos a mudanças bruscas de comportamento das crianças e adolescentes, o grau de sofrimento é determinado pelas características psicológicas da vítima e o bullying pode agravar e até mesmo causar danos no futuro.

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